Era o edifício mais alto da Europa e ela olhava-o confusa. Visitara já a Torre Eiffel, ultrapassada claro, mas não parava de surpreender-se com o desejo eterno que os homens tinham de chegar mais alto. De furar o céu, mais do que do atingir, pensava. Ali estava agora, gelada, frente à enorme torre recém inaugurada, pensando na ambição constante, na necessidade de visibilidade, na força da aparência sobre a essência. Observava a torre de pé na ponte, bem em frente à Tate Modern, com a Catedral de São Paulo ali mesmo na outra margem. Cada época sua arquitectura mas, eterna, a vontade de marcar o Tempo, a busca da grandiosidade. Enrolou-se melhor no casaco quente e virou as costas ao gigante pontiagudo dirigindo-se à Catedral. Procurava paz, silêncio, invisibilidade se possível. Fora do seu tempo, procurava ser diminuta, ser esquecida da vida e ficar por ali, só olhando, resistindo a abrir as trancas das saudades e das emoções. Oferecera-se três dias de Londres, voo low cost, na busca do que, antes de partir..., sabia impossível: - Paz interior! Procurava que a vida a esquecesse, que as chatices desistissem de a procurar, que a solidão a ignorasse. Procurava um lugar para ser sozinha, não solitária!, sem cobranças nem julgamentos. E Londres era a sua cidade. Sempre! Só que, agora, esbarrara com a torre absurda e incómoda e, de novo, acordavam nela as razões da fuga. Entrou no Café Rouge e pediu o Double express. Aqueceu as mãos na chávena pintada e ficou aliviada quando ninguém lhe perguntou porque chorava tão copiosamente.
Fizera a boa escolha: - Londres, com a sua torre maior, ignorava as lágrimas de cada um...
Eu acho que é importante não ignorar as lágrimas de cada um!
ResponderEliminarAna
Mãe,
ResponderEliminarÉ por isso que Londres é para mim o melhor lugar do mundo! Porque a vida aqui se faz a olhar para a frente e não a espreitar para os lados.
"Fizera a boa escolha: - Londres, com a sua torre maior, ignorava as lágrimas de cada um..."
Adoro-te
Filipa