- Vamos subir no arco-íris? - O desafio vinha dela, como sempre cheia de sonhos e impossíveis forrados de aventura. Não se pode subir, respondeu ele, agarrado ao real, preso nos possíveis do quotidiano. Ela insistiu. Vamos! Agarramos a ponta e subimos. Tu vais pelo azul, sem escorregar no anil, e eu vou pelo rosa, tentando chegar ao vermelho forte.
Subiram, pendurando-se e trepando com força. Ele empurrou-lhe o rabo, ela, já de pé, deu-lhe a mão e ajudou-o a içar-se. Os dois, lado a lado, encetaram a caminhada. Com cuidado, ela cheirava o intenso do rosa, a suavidade do amarelo. Ele guardava no bolso pedaços de cor. Podiam, um dia, ser-lhe úteis... De repente, ela tropeçou e, célere, ele abraçou-a para que não caísse do sonho colorido. Ela riu, seria uma queda original, cheia de cor e de possíveis eternos. Ele estava sério, o olhar colado no chão, avaliando a distância a que estavam da realidade. Sem medo, embrulhando-se com verde e anil, ela garantiu que o concreto estava sempre muito longe das suas preocupações. Quando chegaram ao fim do arco-íris, não havia pote de ouro. Sem desilusão, porque não o procuravam, escorregaram para a realidade num abraço total. Ela, agora séria, ajustou na alma as cores que sentira; ele, com mil cuidados, trancou na carteira as cores recolhidas.
É bom poder subir no arco-íris!
ResponderEliminarAna
Um texto lindo, exigindo a metaleitura...
ResponderEliminarTeresa
Muito bonito, querida Luisa!
ResponderEliminarLindo passeio pelo arco-íris,pelas cores, pela evasão ...
Mas há sempre quem guarde as coisas no bolso ("Podiam, um dia, ser-lhe úteis...") e há os que não dão pelo concreto e guardam coisas na alma... ("ela ajustou na alma as cores que sentira")...
beijinhos
Que texto FANTÁSTICO!!
ResponderEliminarParabéns Srª Drª.
Isabel