Curvas, curvinhas, eucaliptos, Montes descaracterizados, estaleiros da Portucel numa antiga Escola Primária e, de repente, gritando essência, o Convento de São Paulo. Edifício austero e sóbrio, bem conservado, rodeado por uma quinta cheirosa, o Hotel surge convidativo. Era quase pôr-do-sol, os sentires despertos por outros olhares há dias provocaram o desejo e, ontem, a ocasião surgiu: - Voltar ao Hotel Convento de São Paulo!! Havia música ao vivo no Ermita, o Restaurante, e o ambiente, o cenário natural, as cores, o esvoaçar das aves procurando os ninhos, a água corrente, o gato amarelo miando por uma guloseima, fizeram a diferença nesta sexta-feira.
Nas janelas altas, todas protegidas contra as melgas incómodas, conseguia ver o olhar crítico dos frades de outrora. Eles viviam ali, em meditação, longe (??) das tentações. E eu imaginava-os a descer as escadas silenciosos, invadindo a cozinha, em busca das guloseimas das freiras e delas mesmas também. Sophia de Mello Breyner fez-se presente e ouvi-a mumurar que "Portugal vive em pecado mortal", tendo a certeza de que não era aos frades que se referia. Eu sentia-me a pecadora feliz. Desfrutando do prazer da noite calma, da comida deliciosa, da voz imitando Nat King Cole, dava largas aos meus sonhos mais intensos. Aos inenarráveis. Aos que dão sentido a uma vida cada dia menos sentida.
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