Sentou-se na rua, no pátio largo, empedrado, na companhia do cães. Eram três, rafeiros, alentejanos como ela, calmos e fiéis, disponíveis sempre para uma caminhada, para uma brincadeira, para uma torrada partilhada. Vira-os aproximarem-se da cadeira baixa, afagara-os e ficara embalada pelo respirar fundo, quase ressonar humano, que os fazia mover os lombos largos. Ao fundo,para lá da cerca, os sobreiros, os troncos sangrando ainda pela ferida do descasque recente. Era a maior riqueza do velho Monte, a cortiça boa que, a cada sete ou nove anos, era tirada das árvores grossas. Tinham sorte, os sobreiros, pensava sorrindo.Tiravam-lhes a pele rugosa, o resultado de anos vividos, e ficavam de novo jovens, vendo renascer a própria riqueza. Não morriam sangrando, pensava.
Ali, no velho Monte, onde sempre chegava com a certeza de recuperar as raízes, sentia-se livre das teias da modernidade e das tarefas obrigatórias. No velho Monte, só os sobreiros podiam agora ter a certeza do futuro.
Muito bonito, Luísa! Um grande beijo
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