Manda a tradição popular que, todos os anos, se acenda um enorme fogo no centro das aldeias e vilas de Portugal. Perde-se no tempo a origem desta prática, mas não é difícil imaginar que o objectivo seja aproximar as pessoas, unir as comunidades e,simultaneamente, evitar que os mais desfavorecidos passem frio. O grande fogo, uma lareira de chão, acende-se na noite de 24 de Dezembro e deve arder até ao dia 6 de Janeiro. Haja chuva, vento, ou frio, a lareira vai sempre ardendo e, em volta, é costume partilharem-se cantigas ao Menino, filhós e azevias, e, claro, alguma ginjinha ou aguardente da boa.
Nas minhas tradições de Natal havia sempre o passeio, na tarde de dia 25, a ver as fogueiras e a deixar uns petiscos. Um dia, teria talvez doze ou treze anos, li pela primeira vez o Conto Natal, de Miguel Torga, e passei a procurar o velho Garrinchas em cada uma das fogueiras que visitava.
Hoje, voltei a fazer a volta. Levei azevias e trança, levei Porto também. Estava muito frio, caíam uns flocos que se desfaziam no chão e voltei a encontrar os velhos eternos, com as mãos enregeladas, repetindo o deixe aí senhora, que isso nada se perde. E beba um copo à nossa! Bebi um copo que me aqueceu a alma que, sei lá porquê, ía mais gelada do que os farrapos brancos.
No regresso, dei boleia ao Garrinchas. Viemos conversando inconfessáveis.
Como eu gostava de ser o Garrinchas para ouvir os seus inconfessáveis!
ResponderEliminarFernando
Tudo pelo melhor
ResponderEliminarTão bonito este seu modo de sentir! Imagino a felicidade sentida pelo Garrinchas e por todos outros a quem aqueceu o estômago e...o coração. Bem haja!
ResponderEliminarInfelizmente os tais velhos continuam enregelados e, se não existissem algumas Luísas por aí nem percebiam que era ...Natal !
ResponderEliminarEles agradeceram de certo e nós também .
Beijo
Gina