quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Noite de Natal


Escolheu a toalha de renda, retirou-a com cuidado do fundo da arca velha e colocou-a sobre a mesa grande. No meio, entre pinhas e azevinho, muitas e muitas velas, porque ela precisava de Luz. Com a neta pequena a dormir a sesta, a casa no silêncio perfumado do leite de creme acabado de queimar, foi colocando o bolo inglês ainda quente, o tronco de Natal, a travessa das azevias, o bolo rainha, os guardanapos bordados. Reconhecia o desvelo exagerado mas, sabia, era a sua forma de iludir a realidade e de se proteger. Sim, na Noite de Natal, e com a casa cheia, precisava de se proteger da saudade, do desinteresse, do abandono também. Vinham memórias de outras Noites, é tão bom ser criança..., mas ela afastava-as para pensar o momento, o desejo de tão pouca coisa nunca possível. E a mesa ganhava cor, luz, as velas nos copos a encher os parapeitos das janelas antigas para lembrar a Paz. Paz para o mundo, mas Paz também para ela, mulher, mãe e avó! 

 

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