A rua enche-se com o som roufenho, a voz monocórdica anunciando o sonho. Há tubarões, leões, elefantes, pistas de gelo e palhaços pobremente ricos. Há muitas sessões, cães vestidos de meninas e gente capaz de andar, sem cair, num arame bem fininho. Há, também, rapariguinhas que se enrolam, como cobras, saindo e entrando dentro de caixas trancadas. Cheira a algodão doce, os bancos são de tábua rija, o chão é terra e pó. É o Circo! O circo que chega à cidade numa longa serpente de camiões, que polvilha de cartazes os lugares comuns e que vende, barato, momentos de alegria. As crianças pedem para ir ao Circo, os adultos alinham...
Sempre me fascinaram, num misto de tristeza e curiosidade, os circos ambulantes. Há alguma coisa fascinante na liberdade nómada, no desapego à rede social que nos prende - a mim prende -, a lugares que, muitas vezes, nos entristecem. Mas há, também, uma miséria latente que angustia. As luzes, o som alto, as lantejoulas e o brilho excessivo parecem mascarar alguma miséria, alguma tristeza também... Penso nas crianças do circo, nos meninos que não andam na Escola, nos jovens que não conhecem a literatura, nem resolvem equações. Penso nestes meninos que não sabem as fórmulas da química e que, sem saberem física, ligam as mil luzes que enchem de cor a grande tenda.
O Circo... Como a vida, a jogar intensamente com o ser e o parecer, com o brilho e as sombras, com o essencial e o aparente.
Luisa, eu não gosto do Circo, tal como à Luisa amargura-me a vida que tão bem descreve. Quando era miúda claro que gostava, com a inconsciência própria das crianças, embora me lembre que ás vezes a minha mãe referia a tristeza que os brilhantes escondiam. Porém como crianças abençoadas ela vida, que nós éramos, não consciencializávamos nada dessas vidas difíceis.
ResponderEliminarOs circos ambulantes são pobreza que desconcerta. As bailarinas têm as collants rotas, os tafetás das saias a descoser e os animais dão pena de tão mal alimentados. Não invejo estes nómadas da pobreza nem acredito que tenha liberdade quem mal ganha para comer. E tem razão, os palhaços ricos têm um ar pobre.
ResponderEliminarQue maravilha! Adorei sempre o Circo! também quero ir ao Circo!"beijinhos
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