terça-feira, 18 de outubro de 2016

DIAS

Não sei se é porque ando, com os meus alunos, a estudar Ricardo Reis; não sei se é este calor que me atinge na inteligência e nas emoções.
 O que sei é que experimento, às vezes, um enorme - e doloroso -sentimento de desadequação ao real. Carpe diem, tento impôr-me. Mas sem sucesso. Algo há em mim que me faz ainda ter sonhos, sofrer desilusões e manter presentes ausências. Algo há em mim, será  a tal consciência social de que me rio?, que me faz doer fundo a indignação e a incompreensão perante alguns acontecimentos. Hoje, é a Escola... 
Eu queria compreender o incompreensível - lá vem Pessoa. Queria saber porque têm todos os professores de entregar à coordenação de área disciplinar as fantásticas grelhas excel onde devem, são as regras, grelhar os alunos mantendo-os em lume brando, ou forte, nos momentos dos decisivos testes de avaliação sumativa. Eu queria ser capaz de compreender, a bem da tranquilidade da minha cabeça, em que medida a entrega das grelhas excel contribui para a eficácia da avaliação e, sobretudo, para a equidade.... Queria ser capaz de não perceber por trás desta atitude a existência de mentes pidescas, de desconfiança e fiscalização abusivas!

Hoje, sinto-me particularmente revoltada. E não me tragam respostas ocas - é norma deves cumprir ; e não me iludam - a avaliação deve ser clara; porque são argumentos vazios de sentido!
Eu gosto muito dos meus alunos, gosto demais da minha profissão, mas não consigo cultivar a indiferença, não consigo  ser estóica e o carpe diem não me conforta!
Queria uma Escola de Pessoas, de profissionais respeitados e de prestígio. Uma Escola preocupada de facto com as aprendizagens e não, apenas, com o culto da imagem...
Para complicar tudo, faltam-me pelo menos dez anos para a reforma!


2 comentários:

  1. Começo pelo fim: quanto aos dez anos que faltam, nada a fazer. Tem de aguentar da melhor forma possível; ou decide a aposentação e aguenta o desconto ao fim do mês.

    Quanto às grelhas - as malvadas grelhas -, concordo, os alunos não são números e há variáveis que não cabem em excell ou noutro qualquer programa. Alem disso, e porque eles são pessoas, dá um trabalho enorme meter cada um lá dentro. Mal comparado, é um bocado como a complicação de contas que se faziam quando alguém precisava saber a posição de uma estrela no firmamento, no modelo geocêntrico. A coisa era tão perversa que um rei, suponho que Afonso XII, disse olhando para tanto cálculo - que, como é expectável, não acertava completamente -, "se Deus me tivesse pedido ajuda para fazer o mundo, isto seria muito mais fácil".
    Fica a gente a pensar como é que se conseguiu ensinar até aqui sem grelhas...em educação, a mania dos números que supostamente reflectem a objectividade que se deseja nunca mais passa.
    Os professores de bom senso conhecem os seus alunos e sabem quanto merecem sem contas que têm que acertar na soma de valores e percentagens parcelares. Antes de preeencher a grelha dão as notas. E depois é só comparar. Por vezes - na maioria delas - é o mesmo valor:). Experimente.

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  2. Luisa, acredite que tenho pena que tenha que gastar o seu tempo com essas burocracias em detrimento de um trabalho criativo dirigido aos seus alunos!

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