Sempre pinto de castanho perfumado o mês de Outubro. Para mim, cheira a castanhas, a marmelada a secar ao sol na velha varanda, e a Serra, sempre a minha Serra, atapeta-se de folhas douradas. Era assim. Lembro-me de me sentar no parapeito do meu quarto, no sótão, e ficar vendo as folhas a cair, as nuvens a juntarem-se em consílios tenebrosos e o futuro, hoje passado, a surgir seguro. Mas a vida mudou, porque tudo muda - Todo o mundo é composto de mudança (Camões) - e este Outubro surge quente, pintado ainda de verdes cansados e sem marmelos que me permitam o prazer de fazer a marmelada. Levanto-me cedo, sempre gosto de me levantar cedo, e resisto ao triste hábito da piedade própria.
Não tenho pena de nada, mas tenho saudades de muita coisa. Tenho saudades, ou será a nostalgia pessoana? , de conversar sem mágoa, de ouvir sem reservas, de rir sem receios. Tenho saudades da ilusória certeza do futuro seguro. Faço então um café forte, passo os olhos nas notícias e preparo-me para trabalhar. É sábado, sim. Mas se o Outubro segue quente e verde, também o sábado se não faz já de boas manhãs a sornar...
Luisa, claro que já pensou na diferença entre saudade (no singular) e saudades (no plural). A primeira dói mais!
ResponderEliminarVerdade.
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