As primeiras chuvas, o primeiro acordar com o mundo envolto em nevoeiro, a primeira noite com édredon, sempre despertam na minha memória nostalgias diversas. Chega aquele acordar desejado, perdido algures, nos braços de alguém, os corpos cruzados, a vontade de deixar crescer a preguiça temperada com café forte. Vêm, ainda encontrando-me descalça, os cheiros e cores do campo que, na mesa da cozinha, aguardam os meus esforços. São os marmelos, os dióspiros, as primeiras uvas, a presença da canela que juro não sei de onde salta nesta época.
Quando eu era miúda, quando foi isso?, em minha casa havia, nesta época, marmelada a secar na varanda de vistas largas. Formava-se uma capinha fina, húmida, que eu adorava roubar com os dedos por lavar. Então, acho que ainda não tinham inventado as bactérias e as esterilizações e nós, mesmo com os dedos pouco limpos, lambíamos doces sem ficar doentes. Nesse tempo, a cozinha tinha sempre cores diferentes. Muitas vezes, muitas mesmo, eu achava que a vinha virgem desbotava para o interior da minha casa.
A minha casa também era um espaço mágico. Era um casulo. Um lugar onde ser feliz era mesmo uma possibilidade, e onde eu não suspeitava sequer de um qualquer futuro a haver... Então, eu não conhecia palavra fim e ninguém tinha arrancado, ainda, as últimas páginas dos meus livros de fadas.
Oh! Que saudade tenho dos outonos em casa da minha avó! Eles eram tão parecidos aos que descreve...
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