quarta-feira, 4 de março de 2009

O SIMULACRO

Eu hoje tenho de ficar ao pé da porta, vai haver um fogo! - E eu a protestar. Fogo?? Sim, esclarecia o João, um simulacro, a setôra nunca sabe de nada.E eu a admitir que sim, que nunca presto atenção aos simulacros, sem confessar que me vejo aflita para dar conta da realidade! O João esqueceu-se da porta, centrou-se na desculpa a inventar para justificar a ausência do livro, não admitiu ser um simulacro de aluno..., e a aula começou.
A Mensagem a fazer-me despertar para o sonho, o desejo de contagiar os meus miúdos, o mito é o nada que é tudo, A Europa jaz, posta nos cotovelos, a actualidade das palavras geniais do meu Poeta e o alarme dado pela cumpridora funcionária numa interrupção aflita: - Depressa! Já deviam ter saído! - Saímos com calma, sorrindo, os alunos brincando com o facto de eu ter trazido o livro de ponto (deficiência profissional?), alguns reclamando por causa do frio, outros entusiasmados com o intervalo antecipado. Dez minutos depois, todos na rua! Centenas de jovens, de adultos, esperando a chegada dos bombeiros. Frio. Sentia o vento gelado, a chuva grossa, entrarem-me na alma e fiquei esperando, ouvindo os comentários ao simulacro.
Meia hora depois, começou o espectáculo: - Bombeiros, ambulância, PSP, governador civil, jornalistas! Impressionante!! Montaram-se escadas, cordas, saíu o Miguel, actor inato, fingindo pânico, foi retirada a Cátia, de maca, simulando ter sido vítima de um desabamento. Entretanto, gelava-se na rua!
Demorou quase duas horas o circo armado. Ou melhor, o simulacro! Simulacro de incêndio e de espectáculo porque, de verdade, nenhuma das coisas teve qualidade... Se houvesse um incêndio a sério, teriam libertado o parque de estacionamento de véspera para estacionarem os carros de bombeiros e as ambulâncias? Teriam os alunos saido calmamente, rindo e sem atropelos? Ter-me-ia eu lembrado do livro de ponto? Duvido.
Foi, sem dúvida, uma manhã diferente. Gelada e húmida, com o governador civil a tomar café no Bar da minha Escola. De que serviu? Creio que de nada. Mas teve graça porque mostrou que este país, o Portugal de hoje, nem a simulacro chega!!!

1 comentário:

  1. Olhe, eu levava livro!! só não levei o correcto!
    Já lhe disse que está mais resmungona?
    Mas pronto eu não digo nada porque agora tenho que concordar consigo, aquele simulacro foi muito mal feito, os alunos também tiveram muita culpa que não se souberam comportar mas podia ter havido mais controlo, também... Enfim o que lá vai lá vai, nós é que ficamos cá prontos a levar isto para a frente... Ou não.

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