sábado, 14 de março de 2009

Ouvir??

Chamaram-nos para nos ouvirem. Era uma sessão de trabalho, convidados ilustres como a senhora secretária de estado de qualquer coisa, Idália Moniz, o Dr. Juíz Armando Leandro, uma procuradora de voz de tabaco, modos de marinheiro embriagado e, obviamente!, vestido beringela. Falaram sobre crianças em risco, jovens também, manifestaram preocupações, repetiram a sonoridade do nonsense bem meu conhecido. Depois, foi a vez dos alunos. Seis jovens subiram à mesa, a de oradores para, disse a tal senhora secretária, serem ouvidos. Sentada na plateia, atenta, adivinhava o nervosismo dos meus meninos e aguardava as suas intervenções. Começaram. Falaram verdade, da realidade que conhecem, dos problemas que enfrentam, das dificuldades que vencem, dos sonhos que por vezes adiam. E, para meu espanto e profunda indignação, caíu-lhes a estupidez adulta em cima! Não os ouviram, não compreenderam, não respeitaram. Afinal, aquela gente queria apenas que os jovens dissessem o que eles próprios queriam ouvir: - que a opinião conta, que são solidários, que têm tempo para o desempenho de actividades cívicas. Via a Ana a desmoronar na real e justificada indignação, senti a surpresa atónita da Filipa, sofri com a dor magoada da Nazaré. Assim, com adultos destes, não vale a pena investir nos sonhos.Ou vale? se calhar vale. Porque eu acredito que tem de fazer sentido fomentar a mudança, provocar os sentires e construir sentidos. Mas, às vezes, faltam-me as forças...

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