Já muitas vezes disse que não tenho memória real, consciente, do tempo da ditadura. Há quem diga que por isso sou defensora da democracia cristã, embora eu ache que o sou apenas por uma questão de inteligência e lógica. De qualquer forma, para mim a ditadura era a prática da não-liberdade, a castração de vontades, a opressão, o reinado da injustiça e, por isso, aprendi a rejeitá-la com toda a razão intensa das minhas emoções. É meu costume dizer até que tive a sorte de crescer em democracia. Ora, agora que já parei de crescer, quando pouco falta para assinalar meio século de vida (um ano passa a correr), estou a experimentar os efeitos de uma democracia ditatorial. Infelizmente, não é um paradoxo com fins literários!
Vivo num momento que, um dia, a História classificará como o tempo das nulidades, a era do poder da força, a caça à livre inteligência e opinião. O governo do meu país, um Portugal que cheira a mar e a farrapos de sonho, persegue, penaliza arbitrariamente, premeia a mediocridade, certifica a incompetência, legisla contra os direitos básicos dos cidadãos e pratica a injustiça diariamente. Eu, que perderei talvez o vício de pensar quando morrer, fui penalizada, punida, por ter tido, tal como alguns colegas que recusam a mediocridade, a coragem de não entregar os malditos objectivos individuais. E em causa estava, apenas, fazer copy-paste de umas banalidades de fazer de conta que se avaliavam professores! Por discordar, porque os meus alunos exigem de mim - MERECEM!- um exemplo de efectiva seriedade e honestidade intelectual,recusei a mediocridade e o meu chefe, oficialmente Presidente de Conselho Executivo, entregou-me, hoje, a minha/nossa punição: - dois anos sem progredir na carreira!
Choca-me, obviamente, a estupidez inerente a todo este procedimento apadrinhado pelo Ministério da Educação. Mas, mais do que isso, revolta-me a forma como gente que até conheceu a ditadura desiste da democracia!!Magoa-me, agride-me, que uma elite intelectual, porque os professores são, ou deviam ser?..., uma elite intelectual, ceda a pressões vindas de gente sem escrúpulos, sem razão e sem verdade.
Hoje, lamento o povo português que ainda não aprendeu o valor da Democracia!!
Como seu aluno, devo-lhe um obrigado por se sacrificar por mim e pelos meus colegas!
ResponderEliminarTêm que haver mudanças e o pior é que pelo que vejo na rua, temo não ser ainda a minha geração a levar Portugal para a frente...