A Igreja naive, tão singela e acolhedora, estava cheia. No altar, a Alexandra e o Miguel, nervosismo indisfarçavel, davam as mãos e olhavam o Padre.
Ouvia-se o sururu dos vestidos de seda, e as orações murmuradas. Eu distraía-me. Descobria rostos conhecidos, pensava como, de facto, há momentos que unem estranhos, que unem pessoas em torno de afectos.. Para longe, com força, afastava recordações. Outros casamentos, outras noivas, a mesma esperança, a mesma confiança nervosa, o mesmo desejo de ser feliz, invadiam-me dolorosamente... De repente, tocada a guitarra portuguesa, começou a ouvir-se a Avé Maria de Schubert.
Agora, travar a emoção era impossível. A peça bem conhecida ganhou novo sentido tocada na guitarra e eu, indiferente ao borrar da maquilhagem, deixei correr, líquida, a saudade, a emoção, as memórias, os sonhos desfeitos....
Como a música, apropriadamente dedilhada, nos faz soltar as emoções, as saudades, as recordações, os desejos, a esperança...
ResponderEliminarBjs
A Avé Maria de Schubert causa este efeito, de borrar o "rimel", a todas as mais sentimentais..., mas , é muito mau esborratar a maquilhagem, pois de certeza que, com os olhos arremelgados, perdem-se oportunidades de tropeçar nalgum olhar atento e lá se foi mais uma chance do refazer de sonhos e outras emoções...
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