terça-feira, 18 de setembro de 2012

Farrapos

Acordou cedo, ou tarde, porque tudo depende da perspectiva. Mas, para ela, era cedo mesmo. Abriu a larga janela de par em par e percebeu a agitação dos melros, a preguiça dos gatos, a calma das lagartixas - Zéfineta de Vasconcelos - ali mesmo no muro branco que já reflectia o sol. Olhou para ver. Era o mundo a sorrir-lhe. O mundo ainda feito do essencial, sem intervenção humana sempre excessivamente agreste, capaz de a comover e fazer sentir viva. Há quanto tempo não parava assim, no parapeito da existência, para olhar o quotidiano? Sentiu o silêncio a envolvê-la, olhou o céu e reparou nos farrapos brancos que faziam sombra no seu quintal  desejando poder guardar, para consumir ao longo do dia, aquele momento. Farrapo também. Farrapo de vida decente!

1 comentário:

  1. Que delícia este "Farrapo de Vida" matutino, silencioso, e a paisagem agreste! Inveja...-só faltou uma chávena de café fumegante.
    A vida deveria ser feita, principalmente, destes farrapinhos.
    Possivelmente, com as revoltas e as pressas, nem damos atenção a estes momentos únicos!

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