Ao lado do vestido que aguarda ser estreado em viagens sucessivas, (a ocasião não chega nunca), dobrou as saudades antecipadas, os estilhaços de memórias já construídas e prontas a desfiar e trancou a mala. Depois, aproveitando o sono infantil, ao menos que às crianças não se imponha a dor do adeus, fez-se à estrada. Sob chuva intensa, com os números da temperatura a descerem vertiginosamente, sorria sozinha sentindo falta de limpa pára-brisas interiores. É que as lágrimas insistiam em fazer despique com a chuva forte... O Minho, verde mesmo, envolto num cobertor cinzento de nuvens fofas, dizia-lhe adeus, ou até breve, ladeando a língua negra onde ia devorando quilómetros.
Num instante, a rapidez da existência, a travessia do Porto,o choque com o gigantesco estádio do dragão, o Dolce Vita com multidões devoradoras de domingos consumistas a ofuscar a vista fantástica do Douro. Depois, sempre a língua negra, as ultrapassagens, o cuidado para detectar polícias e radares.
Por companhia, os afectos distantes.
Amarrada na sua própria liberdade de ser sozinha, os atilhos da ternura, do amor aos seus, não servem de companhia visível, pára enfim, movida pela vontade portuguesa de café, pela necessidade de esticar as pernas também. E de novo a solidão a acolhe. É a única singular na moderna área de serviço. Há casais, há grupos, e há ela. Sozinha. Talvez, pensa, seja ela a mais acompanhada na solidão aparente. Porque carrega o abraço quente da neta, a voz doce dos netos longe, a ternura das filhas, a quentura da certeza de, algures,haver quem a ama de facto. Sem interesses, sem necessidades, sem abandonos. São os filhos, os netos, quem dá sentido à essência da sua vida que, na aparência, se faz de tanto adiamento e dor.
Luisa, mas o Minho está ali tão perto! Sim porque hoje o espaço mede-se já não em quilómetros mas em tempo, quiçá numa manhã de aulas!
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