De noite, a velha casa conversa.
Oiço os móveis cansados a esticarem as madeiras gastas, estalam as madeiras do
chão aliviadas de pesos incómodos e despertam os fantasmas que, de dia, evitam
presenças vivas. Escuto o silêncio. Não te esqueças de desligar as luzes da
árvore de Natal, diz-me o meu Pai, sempre prevenindo azares descuidados. Ainda
não fiz o presépio, este ano. As crianças de outrora são adultos, não há
pressa. Por favor, não deitem os papéis dos presentes para a lareira,
lembrem-se que já duas vezes os bombeiros tiveram de vir passar a Consoada
connosco. Sorrio no silêncio. Não há presentes ainda, o Natal está adiado por
aqui. Como está adiada a calma feita paz da minha infância. Mas sim, hei-de
fazer o Presépio e, de certeza, hei-de ir buscar um pinheiro ramalhudo, dos
verdadeiros, para encher de cheiros novos a minha sala, para iluminar os
passeios dos fantasmas da minha velha casa. Coitado do burro, já nem tem
orelhas! Para o ano, temos de renovar as figuras. E o para o ano eternamente
prolongado, e a vaca a perder um corno, o pastor a coxear, as ovelhas a
ganharem um tom achocolatado que as mãos infantis vão deixando. Vou mesmo ter
de fazer o Presépio. Talvez dia 8, cumprindo a tradição do Natal pequenino.
Era no dia 8 que instalávamos o
Natal em casa. Bem cedo, de botas e casacões, descascávamos os muros, carregávamos
tapetes de musgo e o meu Pai cortava o pinheiro. Depois, o dia esgotava-se a
fazer os lagos com as pratas da regina, a colocar as figuras, a encher de bolas
a árvore que insistia em ficar torta. Tenho mesmo de instalar o Natal em casa…
Os fantasmas continuam vagueando, sinto-os passarem por mim num arrepio de frio
que me faz enfiar a cabeça debaixo dos lençóis. Sinto as vozes que partiram a
embalarem-me os sentires e, de mansinho, converso com a saudade feita eterna
presença. Como suportaria a realidade, se não tivesse os meus fantasmas?
Luisa, esses natais, pelo menos para mim, foram-se. Os natais da minha meninice duravam muito tempo e eram também a réplica do que descreve.
ResponderEliminarNa meninice dos meus filhos era a minha mãe que lá longe fazia para os netos isso que descreve. Eu como mãe, sempre pouco entusiasta com a época natalícia, pouco fazia pois achava que chegava bem a glória dos da casa da avó.
Um pinheiro de natal daqueles muito certinhos como se do cabeleireiro viessem, umas tantas bolas coloridas e mais umas grinaldas e uns tantos quantos enfeites eram suficientes para assinalar a data no Areeiro!
Hoje,que vão e vêem a correr a época traduz-se num jantar de Natal, sempre antes ou depois da data oficial. E não é Natal sempre que o Homem quer?
Na realidade a imposição foi minha pois não os quero a percorrer quilómetros para almoçarem num lado e jantarem noutro ou ano sim ano não como conheço casos.
No entanto por cima da lareira lá estará sempre a Coroa de Natal!
Dalma, para mim o Natal é mesmo a única época especial. Felizmente, este ano vou ter filhas e netos comigo. Para o ano, logo se verá...
ResponderEliminarEntão que seja um Natal muito Feliz com todos os que lhe são queridos!
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