sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O CANTE

Quando me perguntam de onde sou, sai-me logo alentejana. Eu, que tantas vezes critico a sinédoque que faz de metade do país um lugar singular, entro na coisa sem dar por isso. Nunca me lembro de dizer que sou portuguesa, mas nunca me esqueço de dizer que sou alentejana. De facto, é o vento soão que me traz neuras, a imensidão das planícies que me define e o branco do casario que me espelha. Sou alentejana inteira. Gosto de açorda, de migas, de carne de porco, de chouriço assado, de vinho tinto, de doces de ovos, de boleima e de bolos fintos. Gosto do falar lento e denso, das expressões só nossas, dos olhares escuros marcados por presenças de um passado muito cheio de canela e fome. Assim, o reconhecimento do Cante Alentejano como património imaterial da Humanidade encheu-me de orgulho. Por ser o Cante da minha gente, por ser imaterial, por me emocionar sempre! 

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