sábado, 29 de novembro de 2014

CARTA ABERTA

Senhor Ministro Nuno Crato,
Não sei se o senhor passa os olhos pelas redes sociais, talvez ache que são coisas de gente comum... De qualquer forma, como não tenho outra forma de entrar em contacto consigo, esta é já a segunda vez que me sirvo das abertura da internet para lhe dizer o que penso. 
E penso tanta coisa! 
Em primeiro lugar, o senhor desiludiu-me. Ao contrário de muita gente avisada que nunca acreditou em si, eu vi-o chegar à 5 de Outubro cheia de esperança. Tinha lido o seu Eduquês (deveria ter-lhe chamado politiquês) e acreditava que ia olhar a Escola com seriedade e razão. 
Devia talvez, eu que já virei os 50, estar habituada a desilusões. Mas não estou e, por isso, não consigo olhar para Vª. Exª com indiferença. Na minha opinião de professora e cidadã, o senhor está a destruir a Escola portuguesa, a infectar o clima de Escola, a humilhar os professores e, mais grave ainda, a enganar e a excluir os portugueses. Tudo o que o senhor decide, pauta-se pelo absurdo:
1º As notas do final de um ano de trabalho devem corresponder à nota de um momento: - o EXAME!. Então, Senhor Ministro, para que serve o aluno progredir, empenhar-se, ser avaliado continuadamente ao longo do tempo? Um ano pode equivaler a um momento? 
2º Os alunos devem ter notas para entrarem nas faculdades. E os que têm outra opção de vida? E aqueles que não querem seguir o ensino superior? E aqueles que querem aprender uma profissão e sair de 12 anos de Escola para a vida activa?
3º As Escolas com melhores resultados (nos exames, claro!) vão ter mais dinheiro. Não deveria ser exactamente o contrário? É o mesmo do que administrar antibiótico a quem não sofre de nenhuma patologia.
4º Os professores, ainda que avaliados externamente como Excelentes, estão sujeitos a cotas e poderão ter de ficar com Bom. Incentiva alguém a trabalhar?
5º A sociedade moderna tem a responsabilidade, a obrigação mesmo, de permitir o acesso à cultura e ao saber a TODOS! O senhor ministro apresenta rankings idiotas, conclui que os filhos de gente com dinheiro e formação superior têm melhores resultados e, a seguir, penaliza os que têm menos dinheiro. Escola Para Todos diz-lhe alguma coisa? Saberá que TODOS não é sinónimo de ALGUNS?
Senhor ministro, neste momento, como professora, digo publicamente que não tenho nenhuma consideração pelo senhor. O que está a fazer, prejudicar uma geração de portugueses, um dia será julgado.
Não tenho vergonha de ser professora. Pelo contrário, tenho imenso orgulho em ser professora! Gosto de ver os meus alunos a aprender, gosto de os ver tornarem-se PESSOAS, gosto de desenvolver projectos diferentes, gosto de passar horas conversando com eles sobre coisas de SER, gosto de desfiar sonhos, de ler poesia, de ordenar as palavras para que façam sentido. 
Eu tenho vergonha, senhor ministro, é de viver num país onde a igualdade é uma quimera e a liberdade um sonho por cumprir!
Tenha um feliz Natal, se for capaz. 

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