quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Vou morrer em paz. Um dia...

Quem escreve, sempre se expõe. É impossível, acho eu que gosto muito de achar, despirmos-nos completamente de quem somos quando damos forma de letra a pensamentos e emoções. O que se pode questionar, e continuo a ser eu a achar, é se essa exposição, ou entrega ao olhar alheio, deve ser objecto de vergonha, ou até de crítica. 
Ora bem, eu, que acredito em Deus (para além de todas as religiões, lembrando Régio), acho que o Criador se enganou quando nos fez olhando para fora. Ou seja, Ele construiu-nos do avesso, fazendo-nos olhar os outros, e o que nos rodeia, muito mais vezes do que as oportunidades de nos olharmos a nós mesmos. Assim, e só assim, eu compreendo que haja quem tanto se indigne, e proteste, quando eu escancaro a porta dos sentires e deixo correr as emoções. Acontece que, e juro que não sei porquê, às vezes sinto uma necessidade imensa, uma coisa-vontade-quase-física, de escrever. De dar forma às angústias, aos sentires e aos pensares. Não tenho a pretensão de influenciar ninguém, não quero convencer o outro, ou os outros, de coisa nenhuma, mas dá-me um formigueiro na ponta dos dedos e, quando levanto o olhar, o meu coração dos sentires está esparramado no ecrã. (O outro coração, o que os cardiologistas conhecem, continua na caixinha, batendo, até que.) 
E hoje, agora, com mil coisas para preparar para a pos-graduação que estou a concluir, com a mala para fazer (vou às três da manhã - daqui a bocadinho) para Bruxelas com os meus alunos, vim escrever! E vim escrever, exactamente, a certeza que tenho que o mundo está a entrar em rota de colisão com a emoção e, em breve, tudo vai estoirar e vai chegar o novo Homem! Esse, ao contrário do que todos pensam, vai ser feito de emoções, de compreensão e de humanidade. Vai valorizar a individualidade, vai criar um mundo inclusivo de facto e vai-me ver morrer em paz e sem angústias...

2 comentários:

  1. adorei. tenho a mesma precepção.

    ResponderEliminar
  2. -"Escrever com o coração nas mãos"...
    O que não é sentido, não vale a pena ser escrito.
    A escrita sem «miolo», não prende, não encanta,não cativa o leitor.
    A Setôra tem textos que são hinos à vida! Textos dignos de autênticos Mestres!

    ResponderEliminar