Chove muito, e eu gosto da chuva. Acendo a lareira, gozo o cheiro do fogo a sugerir-me lar, e fico trabalhando. Há sempre aulas para preparar, trabalhos para corrigir, portefólios para orientar e, sobretudo, há tempo para me reolhar. Retomo Vergílio Ferreira, perco-me na teia libertadora da escrita e vejo nascer, saltando das teclas do teclado do meu computador, uma multidão de personagens pedindo para serem gente. Salta a infância, pedindo uma formatação original, exigindo que fuja ao salto ao eixo e aos jogos de consola; pula a juventude, impondo a urgência de novidade (ainda que a mesma se faça de repetições de eternos modelos), e surge a idade adulta (a adultês), lembrando a necessidade de encontrar sentidos e lógicas. Ignoro as personagens incómodas, nem deixo que a velhice exija atenção, e tranco as emoções na gaveta mais funda das aparências exigentes do quotidiano. Então, desligo o pc e abro o caderno onde, a gosto, traço o esqueleto das aulas de amanhã. É bom, apesar de tudo, haver amanhãs. É sempre uma forma de iludir o hoje.
Duvido que o amanhã iluda o hoje.Ninguém vive no amanhã. Mas faz alguma diferença poder pensá-lo. E podemos sempre pensá-lo enquanto o hoje exista.
ResponderEliminarFundamental ao nosso equilíbrio haver " o amanhã" de que fala!
ResponderEliminarQuanto ao texto deste post, quem sou eu para dizer que o texto está maravilhosamente escrito?!