Bolas de Berlim, não é preciso levantar, basta pôr o dedo no ar! - todo o dia o pregão se repete, na voz rouca de um velho cansado, alternando com Olá! Calipo e Magnum, ice-cream, ice-cream, que desperta mais sorrisos do que gulodice. Há pessoas que seguem a indicação, levantam o dedo e cedem à bola. Com creme! Não, senhora, que os da azar (trocadilho com humor) não deixam.
De olhos semi-cerrados surpreendo-me com os contrastes da praia. A ASAE não permite o creme nas bolas, e as pessoas trazem-nas das pastelarias, com creme, dificultando o negócio ao velhote que, apesar do cansaço, mantém o humor e a resposta pronta. Há a preocupação, quero crer, de proteger a saúde de todos mas, sinto, está a tornar-se incómoda e excessiva essa preocupação. Penso no nome das bolas, de Berlim, e não resisto a associar uma certa obsessão hitleriana a esta democracia controladora e impeditiva da liberdade individual! Num sistema político onde as aberrações intelectuais são rotina, porque não pode apanhar-se uma dor de barriga voluntária?
Tento esquecer as bolas e olho a beira-mar. Há muitas mulheres expostas, biquinis mínimos, top-less sem gosto. Se a pele se tornar tecido,quando já não houver nada mais para tirar e descobrir, o que acontecerá ao erotismo e sensualidade? De novo me surge a Berlim da ditadura. Incómoda, irracional, paranóica. Como as bolas. Sem creme!
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