terça-feira, 14 de julho de 2009

Duche

Passos novos na Rumba, alegria intensa no Kizomba, energia no Cha-cha-cha, harmonia no Quick-step e os ritmos a levarem-me para longe. Para aquele lugar que nenhum GPS indica, que o google earth não encontra, que não tem portagem nem multidões. É o lugar meu. Eu com o meu eu, os dois na perfeita cumplicidade tecida de sentires, protegida de realidades, trancada no sonho que liberta.
Há calor na sala espelhada e a mão firme do meu par, sorrindo, dança para o par-grita o Pedro professor, fazendo-me rodar no Tango. Fazendo oitos, penso no nó da vida que, ali, tento tornar sensual. Ele segura-me, sorri e murmura agora o lápis, fazendo-me rodar segura na mão dele. O passo difícil, o mesmo lápis, sai quase perfeito e eu esqueço tudo. Com calma, no ritmo certo de Sinatra agora na Rumba, penso na urgência de valorizar estes momentos. Tudo, ou quase, me parece insignificante, ali, deixando-me levar pelos ritmos diferentes, numa liberdade mesmo total.
A música termina, a aula também, subo a Serra devagar, deixo entrar no meu C4 o vento fresco deste Verão ameno e sinto-me quase tranquila. Tudo passa, penso. Se a vida, que é tão complicada, passa e sempre chega ao fim, se a voz de Sinatra se calou, como não hão-de passar todos os outros dolorosos momentos?! Entro na minha casa silenciosa e meto-me debaixo do duche frio. Saio revigorada! Pronta para dormir com sonhos orientados.
A existência precisa de um duche assim: gelado e revigorante!

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