Falar de Educação, ou em Educação, ou da Escola pública, parece-me,às vezes, um desperdício. Porque ninguém ouve, porque nada vai mudar, porque sinto que o meu pensar, e sentir, estão cada vez mais afastados da minha realidade profissional. Assim, tenho optado por me calar, por guardar para mim, e para os que me são mais próximos (pobre família)as minhas angústias e decepções.
No entanto, às vezes, a minha infelicidade profissional é tanta que não resisto a dar-lhe letra. Foi o que, hoje, me aconteceu.
Fui superiormente informada que vou ser vigiada, controlada e denunciada, pelos assistentes operacionais da minha Escola. Desta vigilância, policiamento, poderá resultar, após apresentação da denúncia ao Director, uma notificação - via mail (há que valorizar as TIC!) e, finalmente, uma punição sob a forma de falta injustificada.
Recebi esta informação, numa reunião de Departamento, entre incrédula e desesperada. Que sentido faz ter os assistentes operacionais (eram os antigos funcionários auxiliares de acção educativa) a fazerem serviço de delatores, de bufos, de espiões? E como se pode explicar, já nem falo em justificar..., a desconfiança dos meus superiores em relação ao meu desempenho? Fará sentido criar-se na Escola um clima pidesco de vigilância e denúncia? Será razoável notificarem-se professores se, por exemplo, deixarem alunos ir à casa de banho, ou comprar água?!!
Não percebo, não concordo.
Mas aceito. Porque não tenho outro remédio. Porque começo a compreender que sou paga para obedecer e não para pensar, nem para educar sequer.
Na minha Escola as portas das salas são de vidro, e os assistentes operacionais passeiam nos corredores com frequência. Agora, sempre que os vir passar, sentir-me-ei vigiada, espiada!! Estarão a ver se os alunos estão sentados? Se estão em pé? Se nos rimos? Se trabalhamos em grupo? Se eu sei o que estou a fazer?
Não era assim que eu sonhava a minha escola. Esta Escola, nem nos meus piores pesadelos a imaginei. Defendo uma Escola moderna, responsável, capaz de não se confinar ao espaço sala e aos manuais escolares. A Escola de hoje, defendo, deveria investir na autonomia, na diversidade de experiências,na liberdade do professor para inovar processos e desenvolver competências.
Se o clima de escola já estava ferido de morte com as leis absurdas da avaliação de docentes, agora vai deteriorar-se ainda mais.
Eu, professora por opção, preocupada em fazer sempre melhor, nunca virando costas a desafios e trabalho, tenho vontade de mudar de profissão. Talvez fazer uma formação nas novas oportunidades e, quem sabe?, tornar-me pastor. É que pelo menos o comportamento das ovelhas já vou adquirindo...
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