Saíu da aula com os cigarros na mão, na ânsia de fumar, com medo da escassez do intervalo, pendurando o cigarro nos lábios enquanto descia as escadas. Lá fora, a chuva. Lá dentro, a humidade no chão, os muitos colegas a empurrarem, os vidros embaciados, os professores tentando não serem abalroados. Pensava no teste que acabara de fazer, Álvaro de Campos e o intimismo, e sentia-se irmanada na angústia existencial traduzida no poema.
Verificou se os cigarros dariam até ao fim do dia, enquanto, batendo os pés para afastar o frio, se encostava a um auomóvel, na rua já, para gozar o intervalo. Não percebia a lógica, se é que existia, de ter de sair da escola, de se molhar, de apanhar frio, para fumar um cigarro. Mas, de verdade, não percebia muitas das lógicas, a maioria institucionais, que se lhe impunham no quotidiano.
Ouviu a campainha, tinha de voltar. Tinha acabado de acender o segundo cigarro que, furiosamente, fumou antes do toque de feriado. Voltou para dentro, rindo, ao reparar, na entrada da Escola, no grande cartaz anunciador do Dia Mundial contra o Tabaco. De facto, a vida das parangonas nada, ou muito pouco, lhe dizia. Talvez fosse dos 17 anos, como o pai costumava dizer.
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