Chegou a casa cansada, esgotada, oca também. Sempre a confundia, dolorosamente, a sensação de vazio que experimentava quando, depois de muito trabalho, lhe surgia a incómoda pergunta "para quê". Muitas vezes, nas viagens constantes, sozinha, acompanhada pela eterna RFM, pensava que a modernidade tinha o condão de desumanizar existências. Tudo se resumia ao dinheiro, à necessidade de o ganhar, à urgência de o reter. Era a crise, talvez.
Mas, mais do que a crise económica, doía-lhe a crise de valores, o vazio que fazia a existência. Era um mistério, para ela, a condição humana. Ou, se calhar, o maior mistério das coisas era, como dizia Caeiro, as coisas não terem mistério nenhum... Vivia-se, trabalhava-se e morria-se. Apenas. Com uma existência física, igual à dos bichos, das coisas, das pedras até. Mas ela recusava o real objectivo aparente de Caeiro, o Carpe Diem de Ricardo Reis. Ela queria a poesia da montanha, o ritmo das marés, a melodia da chuva, o sopro do vento. Se não queria ir na vida triunfante como um automóvel último modelo, qual Campos, queria, tanto-tanto, poder saborear o mistério maior de todas as coisas. Esse mesmo. Apenas.
Mãe querida,
ResponderEliminarTb a mim me assusta a crise de valores! Mas recuso-me a acreditar que não podemos fazer nada! Espero que o Manel Bernardo não a sinta! Que bom que vai ser poder ter-te ao pé de nós na grande festa que estamos a preparar para comemorar o primeiro ano. São nestes momentos, bem como todos os dias, que transmitimos ao Manuel Bernardo aquilo que é importante.Óbrigada por podermos sempre contar contigo!
Adoro-te