Era uma pilha de pratos de boa loiça. Pratos com história, presenças em muitos jantares, depositários de muitos manjares, assistentes de muitas conversas, testemunhos de muitos sonhos e projectos. Tinham sido lavados à mão, um de cada vez, com detergente de não promoção, luvas de borracha suave, água morna sem calcário excessivo. Ela enxugara-os com um pano branco, sem riscas vulgares, e colocara-os numa pilha ordenada: - Em baixo os rasos, por cima os de sopa, no topo os de doce. Se fossem pratos de vida, seriam primeiro os indispensáveis, depois os profundos e, bem à mão de semear - que é como quem diz de utilizar -, os das coisas boas! Essas coisas boas que, diz a (des)razão, devem sempre ser moderadas, sem exageros. Mas ela exagerara e tentara carregar a pilha completa, de uma só vez. Um esforço ousado. Porque, sem aviso, sem balançar sequer, a pilha caíu no chão e os cacos chegaram a todos os cantos.
Pegou na vassoura, mas não conseguiu varrer tudo para o lixo. É tão difícil apanhar cacos!!
Há muitas formas de partir a louça toda.
ResponderEliminarEsta foi a maneira mais literal de se partir.
Estes cacos não foram feitos de raiva, não aconteceram por desfaçatez, apenas por ação da gravidade.
O pior, depois, é sempre o ter de limpar os cacos, sejam os da raiva, os da desfaçatez ou os verdadeiros.
Já agora um conselho: depois da vassoura, passe com o aspirador... sempre aspira tudo!
Cumprimentos