São bancos de madeira, resistentes e perfumados, os que polvinham os jardins ingleses. Sempre me faz confusão como resistem à chuva, à humidade, porque nunca os vi cheios de fungos ou quebrados. São bancos de sentar mesmo, não de pedra e modernamente desconfortáveis como os que, na era post Poólis, invadiram as cidades portuguesas. São bancos de pensar, de afectos, de memórias e de histórias. Alguns destes bancos ostentam uma placa com um nome, ou dois, com datas também. Gozando do privilégio de não conhecer os nomes, e por isso não ser atacada por saudades, gosto de imaginar os rostos, e as vidas, que dão sentido áquelas inscrições. Imagino sempre casais com tempo, ou velhas senhoras sem idade, olhando as flores, envolvidas nos casaquinhos escoceses, comentando as mudanças do mundo e a beleza das flores com a mesma ternura na voz. Gosto, também, de me sentar, rodeada de verde e acariciada pelo vento fresco dos ingleses, de fechar os olhos e de deixar sentarem-se a meu lado as ausências sempre presentes. Converso, então. E falo de sentires, até dos proibidos, de sonhos, de desilusões, de afectos, de quotidianos, de indignações. Converso tanto que, quando dou por mim, os melros, os melritos que o meu neto adora, fazem companhia aos esquilos ouvindo o meu falar. Felizmente, só os bichos escutam os meus monólogos nos bancos dos jardins ingleses...
Na minha rua também tenho bancos parecidos, desses de sentar, de conversar, de descansar, de olhar os outros a passar na rua, de sentir a vida da minha rua pelo movimento que se atravessa diante de mim, quando ali estou sentado.
ResponderEliminarEstes bancos fazem bem à alma, ao existir de cada um de nós, transmitem vivências...
Só que os bancos da minha rua são mais prosaicos que esses ingleses, só têm uma placa com o nome do fabricante, nada que faça lembrar alguém. São bancos sem história mas, certamente, já têm muitas histórias de vidas para contar.
Cumprimentos.