sábado, 24 de agosto de 2019

PAPEL HIGIÉNICO ??

Nos últimos dias, a par com a calamidade que tem sido o incêndio na Amazónia, em Portugal levantaram-se vozes indignadas em relação ao Despacho nº 7247/2019. 
As redes sociais encheram-se de revoltados e ofendidos e houve até que viesse exigir - acho sempre curiosa a ideia que toda a gente tem de exigir - que o mesmo Despacho fosse anulado. Confesso que nem sempre presto a atenção devida à legislação mas, quando se trata de Educação, leio com muita cuidado. E foi o que fiz.
O Despacho em causa vem operacionalizar a Lei nº 38/2018, onde se consagra o direito à autodeterminação sexual. Reli e li e reli o Despacho. Porquê tanta indignação? 
O que se legisla, e me parece da maior relevância e sentido, é a possibilidade das Escolas tratarem de igual modo todas as crianças e jovens, sem discriminarem aqueles que não encaixam no modelo tido como correcto. 
Há, de facto, pessoas - PESSOAS - que não são o que a anatomia destina. Há rapazes presos em corpos de raparigas, há raparigas trancadas em corpos de rapazes. 
Porque tudo muda e, felizmente, o mundo evolui, é hoje possível corrigir estas alterações e permitir a cada um viver a sua verdadeira essência. Sem dramas, sem culpas, sem dedos apontados!
O que o despacho vem dizer é que as Escolas devem utilizar o nome que cada indivíduo escolhe, deve respeitar a transformação ocorrida e não deve contribuir para aumentar o sofrimento que uma situação destas muitas vezes provoca. Trata-se, apenas, de legislar para as pessoas, para a singularidade e para a diferença, em vez de para uma igualdade que nunca existiu.
(Quando eu era jovem, no meu Liceu havia um caso de um jovem homossexual. As humilhações, as agressões que ele sofreu foram tantas que teve de abandonar o liceu. Parece justo? A mim, não!!)
O mesmo Despacho diz que os professores necessitam de formação para lidar com estas situações. Eu quero fazê-la! Eu quero aprender a ser uma professora mais capaz de ajudar os meus alunos a serem Pessoas. São os professores que têm de acompanhar estas situações? Mas, claro! Os juízes, médicos, os contabilistas, etc. não estão nas Escolas!
Nada no Despacho diz que os rapazes que quiserem vão às casas de banho das raparigas, ou vice-versa. Nada no despacho diz que não é importante e necessário que exista papel higiénico nas casas de banho das Escolas,  outra barbaridade que tenho ouvido...
Tenho muita pena que, em Portugal, quando algo de positivo surge, o debate se centre em torno de questões ridículas e paralelas. Ainda bem que o Despacho nº 7247/2019 está publicado.
Ainda bem que se começou, desde a homologação do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória em  setembro de 2017, a olhar a individualidade de cada aluno.
Como mulher, mãe, avó, professora e cidadã, aplaudo este novo Despacho!

1 comentário:

  1. Tudo o que tenho a dizer professora, é o seguinte: fico muito feliz que pense assim.

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