O Tempo passa, veloz, e a minha terceira neta, a mais velha dos portugueses, entra amanhã para o 1º ano, 1º ciclo. O nervoso da miúda parece-me natural, muda de escola, muda de professora, dizem-lhe que não pode falar e que tem de trabalhar muito. Ansiosa, pergunta como fará se tiver dúvidas, e se precisar de ir à casa de banho, e se precisar MESMO de dizer coisa - ela gosta muito de dizer "coisas". Eu desdramatizo. Garanto que vai ser muito divertido, que vai fazer muitas coisas interessantes, que vai aprender a ler e a escrever-me mensagens, que pode sempre falar desde que não interrompa. Enfim, sábios (ou não) conselhos de avó.
Este fim-de-semana fui vê-la. Atravesso sempre meio país, e sempre tenho a sensação de estar no estrangeiro! Desta vez, pior... Pensei que tinha aterrado no quarto mundo, lá para trás do sol posto.
A minha filha veio da reunião de apresentação, com pais e crianças, numa manhã de muito calor, com uma lista de material para comprar e, pasmei!, com um horário!
À minha neta, de seis anos e muita curiosidade, foi dado um horário onde se diz, explicitamente, que terá português às 8,30h, duas horas, depois intervalo, depois matemática, de tarde estudo do meio, e ao fim do dia as AECs . Na segunda-feira é assim, e no resto da semana trocam-se as horas mantendo, sempre, as áreas de expressões para o fim da tarde.
O meu desgosto revoltado faz-se de incompreensão e discordância. Como é possível? Se se sabe, se andamos há pelo menos três anos, a tentar que os professores articulem conteúdos, que coloquem diversos saberes ao serviço da promoção das mesmas competências, se tentamos que, nos segundo, terceiro ciclos e secundário, se desenvolvam práticas pedagógicas activas, se dizemos que um DAC (exactamente porque estabelece relações) pode ser uma estratégia de sucesso, porque é que, no 1º Ciclo, quando o ambiente é naturalmente propício a novas metodologias, a aprendizagens activas e colaborativas, se tenta espartilhar a aprendizagem?
Eu sei que não é o Ministério da Educação que obriga a distribuir horários para o 1º ciclo, e sei que é possível fazer diferente. Ainda por cima, eu tenho a certeza absoluta que aprender de outro modo, articular aprendizagens, faz a diferença no sucesso das crianças e, por isso, não consigo calar hoje a minha indignação!
A minha Constança, como todas as Constanças, todas as meninas e meninos que amanhã vão para o 1º ano, merecem uma Escola com sentido e não com espartilhos.
Estou mesmo triste! Tão triste que, neste momento, só desejo que a minha neta se revele uma daquelas crianças resistentes ao professor. Daquelas que, independentemente do método e do professor, sempre aprendem e sempre são felizes!