quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

CONVERSAS COM DOCE DE ABÓBORA

Pomos a mesa com cuidado, escolhemos o bule antigo, fazemos scones e ficamos a conversar. Vamos bebericando o chá, a tisana-corriges-, e trazemos os ausentes, a velha Praceta, as escadas do Liceu, a fila J do Crisfal, as boleimas partilhadas, os cafés no Alentejano. Nunca mais tomei café no Alentejano, confesso. Ris-te, porque os tempos são irrepetíveis, os momentos são sempre inaugurais. Iniciáticos? Talvez. E falamos de desilusões, de erros que nunca o seriam se a vida tivesse livro de instruções. Erros são experiências, vivências também. E há erros que, antes o serem, foram momentos perfeitos, digo. 
Chove lá fora, há carreirinhos de água nos vidros das janelas e a manteiga derrete nos scones quentes. O meu doce de abóbora sabe bem, dou-te a receita. Aqueço as mãos no bule antigo, vício herdado da minha mãe, e deixamos o silêncio temperar o momento.
É bom conversar com amigas de sempre. É bom desfiar memórias temperadas com doce de abóbora.

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