Faço anos. Tinha de ser num dia diferente, como eu, o meu aniversário. Quando nasci, contava a minha avó, era terça-feira de Carnaval (como eu detesto o Carnaval) e estava um calor terrível.
Faço 60 anos. Uma data redonda, dizem-me. Como me dizem, também, que é bom fazer anos, que a idade nos traz muita coisa boa, que ser sexagenária - que palavra feia - é um privilégio.
Discordo absolutamente. Fazer anos é dar mais um passo em direcção ao fim certo. Envelhecer, é acumular montanhas de vivências e cada vez menos possibilidades. Sim, poesia à parte, envelhecer é caminhar para a morte e eu detesto a morte. A Morte é filha da mãe, é intrusa, tem-me roubado pessoas essenciais na minha existência.
Faço 60 anos. Tantos! E vim fazer anos longe da minha realidade, nesta absolutamente fantástica cidade de Berlim, neste espaço que já esteve dividido entre a opressão, a ditadura, e a liberdade. Caminho nas ruas cheias, sinto o frio na cara, saboreio cafés diferentes e espanto-me com os museus sempre feitos Arte exclusiva.
Faço 60 anos. Trago na bagagem muitas desilusões, muitas perdas, muitos erros. Mas trago, também, a certeza de que tudo farei para existir plenamente em cada novo acordar. Até que a sacana da Morte venha.
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