Só 100 euros, barato, garante o vendedor. É um clarinete usado, velho, sem bucal. Vinte e cinco euros, só!, garante, num sorriso gasto, a velha senhora indagada sobre o valor da argola de prata.
Vende-se de tudo um pouco: - loiça, discos em vinil, peças de cozinha, mesas, cadeiras, tachos de cobre, bonecos, brinquedos, colares, anéis, pulseiras, caixinhas e caixotes, sapatos, quadros, molduras, memórias de outras vidas, de outros tempos também. É a Feira das Velharias! Acontece aos domingos, entupindo o passeio, complicando o estacionamento, enchendo de memórias alheias o espaço habitualmente vazio de sentires.
Em mim, vagueando por ali, surge uma nostalgia incómoda. Lembro a existência de muitos daqueles objectos nas minhas memórias de criança. Recordo as caixas de grão, farinha, açucar, arroz e massas, na cozinha de minha casa. Lembro as argolas de prata, com os nomes gravados, que seguravam os nossos guardanapos. Saio da Feira com alguma tristeza. Imagino a dor daqueles que têm de se desfazer de vivências, de presenças em vidas passadas. Mas talvez eu esteja errada. Talvez eu esteja a viver a Feira das Velharias com as minhas lentes lagóias de aumentar. De repente, entrando no meu texto sem licença, vem o cheiro do mar, o bem-estar daquele barzinho que me encanta, ali mesmo junto a Carcavelos, onde os empregados, simpáticos e diligentes, usam t-shirts onde se lê: "A tecnologia vende-se. A mentalidade educa-se!".
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