Estás comigo sempre. Conversamos muito, como agora, tarde na noite, mas durante o dia, nas aulas até. Conto-te das minhas mágoas, das saudades dos netos, das desilusões e dos sonhos. Só a ti confesso que ainda sonho... Sei que me ouves, quero crer que estás atento, mas dói demais não poder abraçar-te, servir-te o vinho, passear-te na nossa Serra! Ninguém sabe como me fazes falta, como te encontro nas esquinas de cada quotidiano, como detesto a pedra fria onde ponho flores com a certeza de que não estás ali fechado.
Ontem, há pouco, foi o teu dia. Lembras-te dos presentes que fazia na escola primária, da minha total falta de jeito?! Lembras.-te quando comecei a oferecer-te contos meus? Oferecia-te livros, mais tarde, e falávamos das nossas leituras. Gostavas de Aquilino, ensinaste-me a ler o Romance da Raposa, decifraste para mim o Malhadinhas. Gostavas de Torga, também. Acho que foi contigo que aprendi a lê-lo. Era caçador, como tu, médico também. Mas tu rias mais, sorrias muito! Lembro os nossos passeios ao fim da tarde, as muitas reuniões de Curso, os teus carros grandes que eu conduzia bem, depressa às vezes.., (Lembras-te do Rover 820i que dava 200kms por hora? Como nós voamos até ao Porto! )
Contigo aprendi que o Mondego era Basófias, que os Amigos são eternos, que "haja o que houver, amanhã Deus dá-te mais um dia novinho a estrear". Pai, tenho tanta pena dos meus silêncios! Tenho tanta pena do que não disse. Porque, Pai, agora já não há quem me oiça sem atirar pedras, sem julgar, sem condenar...
Não queria voltar a ter dez anos para irmos juntos ao musgo do Presépio, não queria ter vinte anos, para conduzir a teu lado, não queria ter trinta para te ver mimar as minhas filhas. Queria ter 53 e ter-te aqui ainda. Sempre!
Tanta saudade! Tanta falta! Tantas recordações! Tanta amizade!
ResponderEliminarUm texto de uma força e ternura comoventes. Fiquei parada, a ler e reler.
ResponderEliminarTeresa
Olá!
ResponderEliminarBeijos, pelas saudades do Pai... e pelo texto. Fez-me muitas saudades do Meu...
Ó Setôra, como é que diz aqui, sem mais nem menos, que ia ao Porto a 200 km/hora? Valha-me Deus!, ainda vêem pregar-lhe uma multa, com a fome que andam de dinheiro!
Amei esta conversa...
Sim, Luísa, o teu pai era isso mesmo! Uma pessoa inesquecível, de quem sabes que fui muito amiga! Nunca alhava a ninguém e sorria, sorria sempre...
ResponderEliminarUm beijo