Ainda ontem o Dr. Castro dizia que não queria que o seu livro fosse chamado de memórias, ainda ontem ele lamentava a abundância de fragmentoss de vida, a impossibilidade de os calar, e já hoje eu concordo incondicionalmente com ele. É talvez a proximidade do Natal, o frio intenso, os dias limpos de céu azul, a excitação das crianças nas ruas, a compridura infindável das minhas noites solitárias que fazem saltar as memórias. E são tantas! Vejo a minha filha mais velha agarrada a mim com medo do Menino Jesus, a mais nova a espreitar os presentes, a Casa dos meus pais, sempre A CASA, cheia de cheiros, de lareiras acesas, de perús a chegar de laço vermelho de oferta. Sempre me fazia impressão a oferta dos bichos, muito luzidios e anafados, esperando a morte. Hoje, até desse então terror sinto falta! Oiço o meu Pai a orientar todos, a exigir de nós muitas coisas que nos faziam reclamar. Oiço-o a pedir a minha presença na cozinha, sinto a sua presença e a falta dele torna-se insuportavelmente dolorosa! O meu Pai enchia a Casa, unia-nos, fazia-nos acreditar que há sempre um novo possível.
Hoje, quando a noite cai na cidade branca, oiço-o a rir, abrindo o vinho tinto, pedindo uma tapa para entreter a espera do jantar. Hoje, agora, queria tê-lo comigo. Queria, egoisticamente, sentar-me a seu lado e encostar a tristeza, ancorar o sofrimento.
Gostei.
ResponderEliminarFeliz Natal
Sempre as memórias...
ResponderEliminarA lembrança de quem nos é querido, de quem nos ajudou a moldar a forma de pensar, de quem foi uma companhia e uma presença constante.
É por isso que o Natal, para além da comemoração, do riso das crianças, do frio em céu azul, é tempo, também, de recordações, de saudades...
Cumprimentos.
Sempre triste a saudade.Nunca passa...
ResponderEliminarPor isso,as "Memórias", quando são agradáveis, invocadoras de momentos belos,é muito bom, guardá-las cá dentro, para as trazer á tona quando queremos muito, reviver esses momentos com os nossos mais queridos e,agora, ausentes.
Se não temos memórias, então é que não temos nada!
Mais do que as memórias, as saudades de quem já partiu. Saudades de outros tempos, em que tudo parecia mais fácil, menos problemático, mesmo com tantos amuos.
ResponderEliminarBeijo