segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Em abstracto?

Encontrei duas jovens mães, nos primeiros trintas, com as crianças no jardim. Magras, descontraídas, giras, com a vida pela frente, em calças de ganga despretensiosas, falavam da vida. Da delas. As crianças, de meses, estão já na creche, uma numa IPSS, outra numa instituição privada. As duas jovens, por ser domingo, gozavam as filhas com avidez, sofreguidão quase, e comentavam que, diariamente, deixam-nas nas creches às oito da manhã e vão buscá-las às seis ou sete da tarde. Uma delas, sorrindo amargo, constatava que a filha tem mãe acordada três horas por dia. A outra mãe, com uma filha mais pequena, dizia que ganhava menos do que uma empregada de limpeza, embora tivesse feito uma licenciatura e um Mestrado. Interrogava-se sobre a importância de ter estudado na Universidade Nova, de ter feito um investimento enorme na sua formação para, agora, ganhar trezentos euros por mês. A rir com tristeza, contava que enviara currículos para todo o lado mas o único ordenado interessante viera-lhe de uma agência de acompanhantes de luxo que, obviamente (ou não?!), recusara. Eu ouvia e observava.
Que vida têm estas jovens mães? Fará sentido estudar, conseguir uma graduação superior para, neste país, viver miseravelmente? Fará sentido que a vida destas jovens mulheres se faça de limitações e impossibilidades? Será esta a sociedade que se pretende num mundo dito desenvolvido e humanizado? Muitas vezes, oiço os políticos formularem hipóteses "em abstracto". Apetece-me sugerir-lhes que olhem para o concreto...

1 comentário:

  1. Cada vez há mais desalento nos jovens. Onde irá parar este pobre país?
    Ana

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