A mala aberta e desordenada em cima da cama reflectia a desordem dos seus sentimentos. A decisão fora pensada, consciente, mas a chegada, o choque com uma realidade desconhecida, fazia-a tremer. Bem fresca na memória quente tinha ainda Sintra, a praia da Adraga, a sua Lisboa espraiada frente ao Tejo, os amigos e os adeus recentes. Agora, da janela do hotel provisório, via miséria, sujo no chão, ondas de calor, um mar castanho, pastoso e estranhamente calmo. No silêncio do quarto ouvia gritos, pregões, vendo correr crianças meio-nuas por entre o trânsito caótico. Era Luanda a recebê-la, vinda de um país que a rejeitava, disposta a dar-lhe uma nova oportunidade. Tinha medo. Medo físico, mas medo emocional também. Era tudo tão diferente... Os cheiros intensos, as cores, o céu. Era a África, que conhecia de narrativas românticas, a revelar-se num realismo doloroso. Mas fora a escolha dos dois. Portugal não tinha nada para oferecer, o desemprego crescia e eles queriam trabalhar, viver, ter vida e existência para além da angústia do final do mês.
Agora, a vida era a dois, sem amigos, sem família. Só os dois! Tanto e, talvez, tão pouco.
Olá...-cheira-me a livrinho ! ...
ResponderEliminarA praia da Adraga, a mim, diz-me imenso...
Praia da Adraga, Almoçageme, Casas Novas,Penedo, muitos irmãos e primos..., e sempre Sintra!
Pena de quem tem de emigrar.
Aqui,de atalaia, à espera deste livro!!
Não tenha ideias! Não se atreva a ir embora setôra, nós precisamos de si!
ResponderEliminarJoão
A dor de partir... de ir atrás da existência, de uma nova vida cheia de incógnitas...
ResponderEliminarMas, também, a vida a dois...
..a dois sem amigos nem família, missão impossível, não ?
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