quarta-feira, 17 de junho de 2020

ESPANTO

Às vezes, sobretudo em trabalho, comento que a sociedade perdeu o direito ao espanto. Quero eu dizer que, hoje, tudo parece ser repetição, adaptação, uma sucessão de déjà vu que faz com que tudo se aceite, tudo pareça natural, tudo elimine o direito à surpresa, à indignação, ao espanto. 
Eu acho que o direito ao espanto é fundamental. É porque nos espantamos que nos apetece agir, intervir, sentir até. Se nos acomodamos a tudo, se tudo parece já conhecido, qual a motivação para viver, para seguir acordando a cada amanhecer?

Hoje, eu espantei-me, surpreendi-me, emocionei-me. Porque olhei a Serra, a mistura de cores, as nuvens brancas, as folhas verdes, as lagartixas amareladas e achei que a harmonia perfeita existe. 
Fez-me bem ter-me espantado. Com o olhar húmido e a alma quase líquida, agradeci o momento. O instantâneo, talvez.


1 comentário:

  1. Luísa, o espanto não faz parte da gente de agora! Nunca vi um neto meu espantar-se com a Natureza! Lembro-me sim, sete dezenas de anos passados, do meu pai nos mostrar um ninho de melros com três ovinos bem escondido num silvado!

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