sexta-feira, 12 de junho de 2020

SOU IMIGRANTE DIGITAL

Lembro Marc Prensky para assumir que eu não sou uma nativa digital.
Nasci em 1960, sem computador nem telemóvel, com a televisão a encerrar à meia-noite. Como não tinha apps, li muito. De Enid Blyton a Dostoievsky, sem deixar de lado os nossos, de Júlio Dinis a Aquilino, sorrindo com Eça, espantando-me com Camilo, pensando com Vergílio, chorando com Sophia.
Não mandava sms, nem tinha wastapp, quando comecei a trabalhar como professora. O quadro da minha primeira escola era negro, e o giz fazia-me alergia.
Não era melhor, nem pior, do que hoje. Era diferente.
No entanto, os meus alunos, em 1982, tinham sonhos, desilusões, características muito singulares e preguiça às vezes. Como hoje.
Hoje, eu sou uma imigrante digital. Aceito. Mas, mesmo aceitando e concordando, não me sinto menos professora por isso. A aprendizagem, esse processo fantástico, tem de, para além do digital, considerar a presença de Pessoas. Tem de ser individual, sendo colectivo, tem de permitir que se aprenda a pensar, mesmo que a teclar. Afinal, como desenvolver o meu documento de eleição, o PASEO (Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória) sem olhares presentes?
Eu sou professora. Sou imigrante digital e quero muito que deixemos as Fadas voltar à escola, entrando pela porta principal

1 comentário:

  1. Não, não mesmo, um ecrã e um teclado nunca substituirão os professores! Como podia eu ter criado amizades tão profundas com alunas minhas que, hoje se estendem da Austrália ao Luxemburgo, passando por outras mais perto se as tivesse ensinado tendo uma máquina pelo meio?!

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