sexta-feira, 19 de junho de 2020

MIGUEL

O Miguel tinha 66 anos e, como muitos outros, foi vítima da doença horrível que ninguém controla. Morreu em período de pandemia, depois de um intenso sofrimento e de uma impressionante aceitação do mesmo. O Miguel dizia que tudo tem um momento certo mas que, infelizmente, nem sempre esse tempo é o que nós desejamos.
Ontem, numa tarde morna, na Basílica da Estrela muitos amigos juntaram-se para lembrar o Miguel. A mãe, minha prima com 92 anos, médica, que já viu morrer dois filhos, tinha no colo a caixa das cinzas que foram benzidas. Fui a Lisboa por isso. Lembrei o Miguel, e sobretudo o irmão Fernando (poeta genial) de quem era mais próxima. Fiz a viagem pensando, chorando, e perguntando mil coisas para as quais não há resposta.
O Miguel e o Fernando Tavares Rodrigues não mereciam o que lhes aconteceu. Eu acho que, às vezes, também não mereço algumas cosas que me acontecem. Esta noite, tenho pensado muito, no escuro e de olhos abertos, que uma das maiores aprendizagens que tenho de fazer é da aceitação consciente e, consequentemente, a da celebração de cada momento de vida!
Miguel, penso em ti! Que tu e o Fernando continuem a celebrar a Poesia, lá onde estão agora. 

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