segunda-feira, 8 de junho de 2020

PREOCUPAÇÃO

Seguem as semanas e esgotam-se os tempos. Olho o mundo, as máscaras, novo adereço de moda, e já não me indigno. Terei, talvez, perdido o direito à indignação. Acho só curiosa, ridícula talvez, a preocupação de procurar máscaras "giras", a combinar com a roupa do dia. Incrível como, num instante, muitas pessoas tornaram um incómodo numa mostra de vaidade. 
Este é o mundo de hoje. O Tempo da imagem, da aparência, da preocupação com o olhar alheio, da preocupação de ficar bem na passerelle da vida. Com tanta preocupação com o exterior e com os outros, esquece-se cada eu, ignora-se e despreza-se o essencial. Há máscaras pelo chão, mas o importante é ter máscaras com florzinhas; há crianças  maltratadas e torturadas (não consigo esquecer a Síria) mas o importante é postar fotografias de meninos e meninas com máscaras de bonequinhos; há crianças sozinhas frente a um ecrã longas horas por dia, mas o importante é financiar a compra de mais computadores, etc. 
Tenho medo deste mundo. 
Não penso no passado, nem sequer sou "retrópica", mas penso no presente e no futuro. Penso, com a alma encolhida, nos meus netos, nos meus sobrinhos pequenos, e tremo com o quotidiano deles. Obviamente, eles são nativos digitais, fazem parte natural desta realidade cada vez mais virtual, mas são também, felizmente, PESSOAS. Onde fica a essência da humanidade, nesta loucura virtual, quando o outro é algo à distância??
Tenho medo. E tristeza funda

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