Quando me vou abaixo, quando me parece que existo sob os escombros da vida, costumam dizer-me que há quem esteja pior. Acredito.
Sei que, infelizmente, há muitas pessoas que vivem miseravelmente, que sofrem violências várias e inimagináveis. Mas a vida tem, como uma das principais características, o facto de ser vivida individualmente. No singular. A tristeza alheia, por mais solidária que eu seja com quem a vive, não serve de panaceia à minha própria mágoa, dor.
Aos 60 anos, olho mais para trás do que para a frente, porque, de certeza, tenho mais passado do que futuro. Vejo uma longa sucessão de falhanços, de perdas violentas, algumas por minha exclusiva responsabilidade outras que vieram esbarrar comigo, e penso que já não consigo mais. Que atingi o meu limite. Que não tenho mais energia para acordar a cada amanhecer e cumprir a minha existência. Sobretudo, sei, não tenho mais onde ir buscar coragem, e resistência, para enfrentar mais perdas, mais doenças, mais dificuldades.
Hoje, penso e sinto que chegar ao fim, ter a coragem de colocar na existência o último ponto final, é a única forma de ter paz.
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