domingo, 7 de outubro de 2012

Tango

Na Buenos Aires desconhecida toca o Tango intenso. Ela ouve-o na pele, ao sabor das ondas certinhas do rio que corre, e fecha os olhos. Trava as lágrimas e deixa que o corpo sentado se perca na memória do que não foi. Sente-se observada pelas próprias memórias e tenta escapar-lhes. Quer saudades de um futuro que desconhece, não quer o bolor de um passado tão presente que dói ainda.  Dói-lhe o corpo. Uma dor física, real, tradução da outra dor, emocional e constante, que não se liquidifica nas lágrimas que esconde.
Coloca os óculos escuros, muito escuros, espelhados, na busca de só reflectir o que vê, ocultando o que é. Queria virar-se do avesso e entregar a alma cinzenta aos raios de sol de início de Outono.
O Tango continua, envolve-a, e lembra a Paris de uma América que não conhece. Há, agora, acordes mais fortes, há a mão ausente que a segura, o cheiro másculo próximo dos seus lábios secos. Encosta-se, recusa a realidade, é apenas um corpo que oscila, quente, nos braços do Tango ausente.

2 comentários:

  1. Um Tango que envolve, cheira, toca, saboreia, afirma, atrai, cumpre, arrasta, sorri, encanta, enche, torna feliz, sempre...

    Bjs

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  2. Ah, o tango. E a valsa, e a rumba, e o chachacha. A dança liberta-nos (sentimos a tua falta!)
    bjs
    Xana

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