terça-feira, 16 de julho de 2013

VASCULHO

Pega na vassoura e começa a varrer o lixo da sua existência. Num montinho agrupa saudades, noutro (maior) ajeita os cacos que ficaram dos sonhos - tantos! - que se quebraram no choque com a realidade. Continua a tentar por ordem na casa da vida e varre, bem varridas, as promessas incumpridas, os projectos adiados, as esperas eternizadas em juras inconsistentes. Com a vassoura bem firme, dá uma vassourada enérgica na revolta, na raiva, na mágoa que a incompreensão faz enorme.
Vai então buscar a pá e começa a apanhar os montinhos. Quando tudo parece pronto para, definitivamente, entrar no lixo, uma rajada de vento, feita de vida vulgar, espalha de novo os destroços. Senta-se esgotada e decide que, para a próxima limpeza a fundo, irá buscar o vasculho forte. Aquele que consegue arrumar, bem arrumadinhas, as folhas que tecem tapetes no empedrado do jardim!

1 comentário:

  1. Era bem bom se pudessemos varrer, sem ser para baixo do tapete, todas essas coisas que fazem a vida...

    Fernando

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