Ela insistia: - Tinha pontos para gastar! A resposta vinha firme, não poderia utilizá-los se não no final de dois anos... E ela protestava: - Mas eu preciso agora e já tenho este contrato há imenso tempo! - A resposta, na ponta de uma unha/garra vermelha e brilhante, incidia nas letras miudinhas... Sim, ela já devia saber que há sempre letras miudinhas, que nunca as ofertas são o que parecem, que não há jantares grátis, que os favores e facilidades não existem... Mas, ainda que segura das sua certezas inócuas, insistia: - Eu preciso de um telemóvel novo e, se não é possível usar os pontos, vou mudar de serviço. Veio o supervisor com a resposta certificada, um não mais autorizado.
Saíu da loja irritada. Ainda no automóvel, abriu a carteira e encontrou os cartões: - uns prometiam pontos, outros descontos, outros crédito imediato, outros acessos privilegiados. Soube-lhe muito bem rasgar todos, partir em bocadinhos os mais duros, e lançá-los no cinzeiro de onde seriam aspirados directamente para o lixo. Estava farta de adiamentos, de promessas condicionadas, de ofertas envenenadas. Cansada de uma realidade cheia de plásticos para iludir a verdade, para entreter as dificuldades. Estava farta de comprar pão e entregar um cartão, de ir ao Supermercado e passar outro cartão. Estava farta, até, da publicidade daqueles que garantiam descontos sem cartões nem promoções...
Pontos? Só se, por azar, tivesse de recorrer a um cirurgião!
Há pontos para tudo, até na escrita! O ponto parágrafo, o ponto de exclamação, o ponto de interrogação e, para acabar as conversas e as relações desagradáveis ainda temos o Ponto Final.
ResponderEliminarBeijos
Álvaro
Cartões?... Se os benefícios não fossem para quem os "oferece", não havia tanta insistência para os impingirem aos incautos das letras miudinhas...
ResponderEliminarNão podemos confiar nem nos pontos...
ResponderEliminarEu ofereço-te um teelemóvel!
beijos