Vestiu o corta-vento, calçou as velhas galochas e fez-se ao caminho. Gostava daqueles passeios solitários, das caminhadas sobre pedras e montes, de se deixar envolver pela neblina matinal, húmida, sentindo a solidão a fazer-se companhia. Ia às ruínas. Era um lugar que conhecia bem, poderia (talvez) por ali caminhar de olhos vendados, e gostava de sentir a aspereza de muitos destroços, a doçura de muitas ternuras, a macieza de alguns viveres. Sabia bem que de pouco, quase nada, lhe serviam as botas de borracha, mas a protecção exterior iludia a vulnerabilidade interior. Levava a alma a reboque, os sentires enovelados mas, ainda assim, a passada era segura e decidida. Nas ruínas reencontrava-se e, embora não parafraseando Pessoa e não querendo construir castelos com as pedras do caminho, sentia que poderia ter já uma cidadela. O corta-vento dava calor e, por isso, tirou-o, expondo o corpo à intempérie. Sempre assim viveria: de alma aberta às intempéries, viessem elas de onde viessem!
O corta-vento dá sempre jeito, mesmo quando nos enche de calor. Sempre se pode abrir e deixar entrar o vento, o frio, a chuva, para não nos esquecermos que a vida também, e quantas vezes!,
ResponderEliminaré feita de intempéries.
Eu cá já construí dois castelos com as pedras e os engulhos da vida!
Beijos.
Ricardo
Com o tapa-vento vestido ou não, aproveite a férias Setôra... e faça castelos, porque não?
ResponderEliminarQue bom poder andar pela sua Serra, sobre pedras e montes, mesmo assim solitária. Se fosse acompanhada, não se inspirava para a escrita, nem tinha liberdade de pensamento.
Boas relexões e boas férias...
Já agora- poucos ovinhos de chocolate!!
Tem razão o anónimo amigo: passeia pela bela Serra de São Mamede mesmo ao teu lado! A tua Serra! A Serra é linda e sempre acolhedora, envolver-te-à: será uma doce companhia!
ResponderEliminarA vida é linda e dura e cheia de chuvadas brutais e de suaves dias de Primavera que aí virão tão maravilhosos!
Gosto de ti!
Com chuva ou com vento: aqui estou!
beijinhos