Chega chuvoso, húmido, fazendo no Tejo um picotado constante. A preguiça marca o dia, há uma certa nostalgia no ar e caminhar junto ao rio sabe bem. As esplanadas, que o sol habitualmente enche de desportistas domingueiros, estão hoje vazias e os pensamentos difíceis escondem-se da chuva, bem longe do coração. Ela goza o silêncio. Gosta do silêncio próprio, que tanta falta lhe faz no mundo atribulado e ruidoso onde vive. Gosta de desligar o telemóvel e ficar ali, só vendo, escutando o tal silêncio feito de conversas alheias que nada lhe dizem. Repara numa senhora velha, senhora mesmo, que caminha acompanhada por um cão de olhos meigos. Também ela parece escutar o silêncio, o das conversas passadas, talvez. Vê-os desaparecerem ao longe, o cão em correrias breves, voltando sempre para o caminhar arrastado da dona, olhando-a com preocupação. Seria uma bailarina? Uma escritora? Uma avó saudosa? Tem os olhos tristes, o cabelo preso e as unhas cuidadas. Veste uma saia de pregas, sapatos rasos e um casaco que denuncia muito uso. Onde irá a velha senhora? Que traços terão escrito a sua narrativa de vida? Afasta os pensares, quer oferecer-se o silêncio total, e entra no café branco.
Pede uma vindima tardia, e o vinho doce, forte, sabe-lhe a vida. Sim, a vida devia ser assim: - forte e doce; terna e calada de dores! Feita de silêncio, também.
Para que o silencio seja total, vou ficar calado.
ResponderEliminarCumprimentos.
O silêncio à beira Tejo é um paraíso, uma dádiva de Deus...
ResponderEliminarEssa senhora de olhos tristes e cãozinho pela mão, uma coisa é certa: se não percebe da poda, percebe de vindima, e sabe como ninguém o que faz falta com o silêncio, à beira Tejo...devia ser escritora...
Gostei deste texto e do que ele invocou, neste domingo.
bons momentos com boa companhia
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