Estava em férias, livre de telefones e faxes, de emails e post-its, longe das exigências de uma vida que insistia em impor-se-lhe. Escolhera a montanha, a oportunidade para longas caminhadas, a energia das árvores que não desistiam de chegar ao céu. Bem cedo, vestia o casaco leve e forte, calçava as botas, e, com um café forte e um pão escuro por pequeno-almoço, partia por outeiros, vales e montes. Gostava de enfiar as mãos nos bolsos fundos do casacão, de jogar sozinha a tentativa de adivinhar a causa dos muitos ruídos, de observar o voo das águias, a corrida dos coelhos, a ligeireza dos pequenos veados. Despida da urbanidade não levava sequer a máquina fotográfica e, por isso, era com o olhar terno e limpo que registava instantâneos, momentos e lugares. Se lhe perguntassem por onde andara quando, ao fim de cada tarde, voltava ao modesto Turismo Rural, não saberia responder. Por aí. O que vira? Tudo e nada. Podia falar dos bichos, das cores, do odor intenso dos pinheiros, do som dos pequnos regatos, do musgo fofo que a fizera escorregar..., mas nada disso fora o que de facto vira. O que ela vira, o que vivera, o que ganhara nestas caminhadas solitárias e cheias de presenças, só à noite longa contava quando, na cama estranha, ficava quieta olhando o tecto de madeira escura.
São os passeios que mais gosto de dar... por caminhos solitários, encantando o olhar no voo das águias, nas cores das encostas, escutando os ruídos do vale, lá longe, de dar a mão, para a ajudar na subida íngreme da vereda e depois, os dois sentados, sentindo a envolvência daquele espectáculo único.
ResponderEliminarCumprimentos.
café forte e pumpernickel...
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