quinta-feira, 21 de junho de 2012

Diálogos Difíceis

Tentavam há muito viver juntas e entenderem-se. Eram boas amigas, procuravam ajudar-se a apoiar-se uma à outra. Só que, por mais que tentassem nunca acertavam e, volta que não volta, lá estavam de costas voltadas, cada uma puxando para seu lado. A Razão tentava impôr-se. Falava de possibilidades, dava exemplos concretos, ditava regras; a Emoção sorria e falava de prazeres, de sentires e descobertas, de prefixos in/m que pretendia eliminar com ternura e afectos. Às vezes, muitas vezes, a Razão irritava-se! Porque não via a Emoção o que era óbvio? - Afectos, ternura, compreensão, carinho, cumplicidade, não enchem barrigas nem dão felicidade. A Emoção ripostava, inflamada, de olhos brilhantes e húmidos: - Antes uma barriga vazia do que um coração oco! Antes um abraço quente, do que um aquecimento central! A discussão acendia-se e o entendimento tardava a chegar. Encontrei-as por aí, na dialéctica constante, e sentei-me com elas conversando. Também os meus olhos ficaram brilhantes e húmidos. É que há tantos impossíveis nesta relação obrigatória...


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