Encostado à parede, o cavalo de pau esperava uma cavalgada mais. Estivera anos ali esquecido, brinquedo antiquado, incapaz de responder a um toque de tecla, exigindo mais do que um rabo enfiado num sofá. Finalmente, agora aparecera uma criança capaz de o levar de novo por imensas cavalgadas. Bem cedo, mal o sol rompia, já os dois, ele engalanado, o cavaleiro de pijama, pés descalços e boca suja de Nestum. Juntos, saltavam barreiras, competiam em corridas com cegonhas brancas e desafiavam as piranhas dos rios imensos. O cavaleiro conhecia de cor o nome de todos os animais, gostava de saltar por cima das papoilas vermelhas e nunca espirrava com o pólen das giestas. Às vezes, o pequeno cavaleiro ficava cansado, sentava-se nas rochas e perguntava ao seu fiel cavalo de pau como era possível que a torga estivesse tão direitinha. O cavalo de pau, seguro da sua sabedoria, explicava-lhe que é sempre possível manter as costas direitas se não criarmos raízes que nos prendam demais. O pequenino cavaleiro ria-se, feliz, mesmo sem perceber a resposta, e penteava as crinas de lã do seu amigo cavalo. Às vezes, o menino mudava de brincadeira, cansado das cavalgadas longas, ou aflito para fazer xixi, e encostava-o a uma parede. Ele ficava quietinho, mas sempre atento, ouvindo as conversas próximas e relinchando perante os disparates que os adultos diziam. Chegou a ouvir dizer, indignado, que a sua cabeça era uma meia velha!!
Um dia, a Minnie, que estava farta de ficar sempre no mesmo lugar do cesto dos brinquedos, pediu ao cavalo de pau que a levasse a passear. Ele estranhou. Uma ratinha vaidosa a montá-lo?! Mas a Minnie, usando de toda a delicadeza, pediu muito-muito-muito e ele acabou por lhe fazer a vontade. Com dificuldade, porque tinha as pernas muito pequeninas, ela agarrou-se à rédea de cores e partiram. O cavalo de pau mostrou-lhe os Montes alentejanos, levou-a ao castelo de Marvão, deixou-a colher malmequeres para colocar entre as orelhas, ensinou-lhe como fazer para saltar pelo meio do arco-íris. Quando voltaram, os dois amigos encostaram-se à parede, ficaram muito quietinhos e só o pequeno cavaleiro descobriu que os dois tinham ido passear. Porque os pequenos cavaleiros, sobretudo quando montam cavalos de pau, descobrem magias singulares e experiências únicas!
Que bom ser cavalo de pau e entrar nessas histórias lindas... Se fosse menina, não me inportava de ser a Minie. É pena não haver, nesta história, um rato Mickey que cavalgasse nos sonhos do viver.
ResponderEliminarOnde é que desencantou essa raridade?! No sótão de uma avó?
ResponderEliminarAna
Era importante que as crianças redescobrissem os cavalos de pau... Agora, levam horas perdidas no virtual e nos jogos de matar!
ResponderEliminarIsabel
Hahaha! Linda história! Aposto que a inventaste para o manuel Bernardo!
ResponderEliminarTambém gostava de ser essa Minnie!
Claro! Chegou hoje, e encontrei este cavalo de pau na Mercearia de Marvão!
EliminarBeijinhos